Venho partilhar convosco uma das experiências mais enriquecedoras e intensas de todo o sempre na minha vida.
Ontem o que vivi enquanto voluntária da Acreditar foi demasiado intenso para ser descrito.
No entanto, entendo que este é o local indicado para esta partilha, para além da partilha com os que me são mais queridos.
Antes de continuar, o meu agradecimento ao meu F, és um docinho, um pedaço de céu azul na minha vida. No que depender de mim, serás sempre o homem mais feliz do mundo.
Ontem estive as 3 horas do meu turno de voluntariado em isolamento com um menino de 8 anos e depois também com a mãe (que quando nos viu, pediu para ficarmos um pouco com o menino porque precisava (literalmente) de apanhar ar) … o dia estava a ser particularmente difícil.
Quando regressou foi contando alguns episódios da sua vida, perdeu um irmão quando este tinha 20 anos, o pai não aguentou a perda e tb se foi passado um ano, a mãe tem cancro que acabou de reincidir em Fevereiro, momento em que foi diagnosticada a doença do filho, tudo porque levou um pontapé na barriga na escola e ficou com dores intensas na barriga...
O menino entre quimioterapia e reacções a morfina e medicamentos estava muito mal, para não falar que já perdeu 10 kgs…
Enquanto estávamos só os dois, eu e o menino, entre o choro dele a sofrer e a sua indisposição ainda lhe contei parte de um história, de um rato, o Gerónimo Stilton, que nos convidava a ver o seu site, que conforme combinado, já confirmei que existe mesmo: http://www.geronimostilton.com/. E assim, conseguimos ir controlando a indisposição, a febre e as máquinas … sempre a apitar… mas correu bem. Houve um momento em que disse “mas eu agora preciso da minha mãe”, perguntei-lhe porquê que resolveríamos isso certamente “porque preciso da mão dela quando me tiram o penso para apertar” e eu disse “então fingimos que eu sou a mãe, vais ver que resulta”, circundei a cama e dei-lhe a mão (tão pequenina, e onde não cabiam mais tubos…)
Depois chegou a mãe mas o menino piorou … não entrando em pormenores … entre os desabafos da mãe, as suas lágrimas, as constantes visitas dos enfermeiros e os gemidos do menino não verti uma lágrima … dei o melhor de mim, que sei e que pude (e que nem sabia que tinha dentro de mim).
Antes de sair recebi o Obrigada mais poderoso de toda a minha vida, fiz uma festinha no braço à mãe desejando-lhe que tudo corresse bem e que tivesse força ao que a mãe me respondeu com um abraço tão poderoso e impressionante que palavras não chegam.
Saí de olhos vidrados e com um sentimento enorme e intenso dentro de mim, incomparável com qualquer coisa que alguma vez senti.
Como as minhas colegas sabiam que a situação devia ter sido mesmo muito difícil (pela conversa que a mãe teve com elas entre nos ter pedido para uma de nós ficar lá um bocadinho e eu me ter ido trocar), esperaram por mim e perguntaram-me se estava tudo bem (a colega que faz voluntariado há mais tempo, é a A.) ao que respondi “foi complicado”, e a A. disse “queres falar?” ao que respondi em silêncio com a primeira lágrima a rolar pelo meu rosto, aí a A. quase ordenou “Chora” e foi o que aconteceu …
Muito forte, muito forte mesmo.
Quando relaxei, o sentimento foi impressionante e difícil de descrever.
O que lhes disse foi “isto é uma experiência de vida incrível” “recebemos muito mais do que aquilo que damos”, mas antes de nos despedirmos a A. disse-me: passa uma boa semana com a convicção que hoje, apesar de achares que recebeste muito, deste muito, muito mesmo.
Senti-me Útil.
Um grande beijinho.
(apesar da extensão do post isto foi a síntese mais curta que consegui …)
S.R
(mas uma S.R seguramente diferente da que conheceram antes deste momento, bem mais rica e mais capaz!)
Um comentário:
Estou as lágrimas, lendo seu blog.
Realmente a experiência do voluntariado é imensamente gratificante.
Beijos
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