Difícil de ouvir

Ontem no meu turno de voluntariado da Acreditar fiz aquela pergunta inocente que sempre pensei que ía ter o cuidado de não fazer para não me magoar … mas fi-la quase por distracção … enquanto visitávamos os meninos nos quartos, comentei que não tínhamos visto o nome da B nos quartos do isolamento (onde permaneceu nos últimos meses)…

As minhas colegas ficaram em silêncio e a A, a mais experiente, lá falou comigo … as notícias eram as piores … nunca se está preparada para ouvir …

Talvez não me tenham dito antes para me pouparem … porque sabem que a gravidez nos coloca num estado mais sensível … ou porque sempre disse que preferia não saber para me proteger e para proteger a minha capacidade de ajudar e de brincar com os nossos meninos… não sei … claro que não pedi explicações … até porque sempre defendi que há perguntas que não devíamos fazer … mas eu fiz …

Esta menina, a B., foi sempre a mais especial para o nosso grupo, a mãe ligou-se muito a nós, porque chegou ao IPO no nosso turno e estivemos muito tempo juntas.
Estivemos com elas muitas vezes, a B entrou para o IPO há um ano e meio, ainda não tinha 2 anos, há pouco tempo fez 3 aninhos e nessa altura a mãe esteve a mostrar-nos as fotos do aniversário … 4 pessoas com máscara à volta da caminha da B… a situação já era muito difícil, a B já tinha deixado há muito de sorrir, o seu olhar era vazio …

Esta menina sofreu horrores, não vou descrever pormenores porque é tudo muito chocante, sofreu o que ninguém no mundo deveria sofrer … pior do que a B ter partido foi o tempo que esteve entre nós no mais puro estado de sofrimento atroz … que vida esta …

Um beijinho querida B, onde quer que estejas … vou guardar para sempre o teu primeiro sorriso quando nos conheceste.

Espero que finalmente tenhas paz… até sempre.